A retomada da CPI da Covid do Senado após o fim do recesso parlamentar manterá a investigação de militares entre suas prioridades. Integrantes das Forças Armadas, na ativa ou da reserva, são vinculados a algumas das denúncias sob o radar do colegiado, como a de um suposto superfaturamento na compra de vacinas. A CPI, porém, enfrenta um dilema: como promover as investigações sem intensificar a crise instalada entre a cúpula militar e o Congresso? A resposta, segundo membros da comissão, é enfatizar que as investigações se darão sobre indivíduos, e não sobre as instituições.
"Apesar de [os citados] serem militares, as investigações estão sendo feitas sobre a época em que exerceram cargos como civis e não como militares. Na CPI, temos cuidado para apurar com responsabilidade qualquer um, seja militar ou não", disse à Gazeta do Povo o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM).
A necessidade de se evitar o confronto ganhou corpo na quinta-feira (22), após reportagem de O Estado de S. Paulo contar que o ministro da Defesa, Braga Netto, teria dito ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que o governo não permitiria a realização de eleições em 2022 se o voto impresso não fosse implantado. O jornal sustenta também que a conduta do ministro se explicava pelos avanços da CPI e as investigações que comprometem o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Tanto Braga Netto quando Lira negaram o conteúdo da reportagem, que foi mantida pelo Estadão. O texto motivou reações de parlamentares de diferentes correntes, que viram tendências golpistas na postura atribuída ao ministro da Defesa.
Ainda antes do episódio mais recente, Braga Netto já havia se indisposto com a CPI. No último dia 7, o ministro e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica divulgaram uma nota em que diziam que "não aceitarão qualquer ataque" vindo da comissão. A fala foi motivada por um pronunciamento feito por Aziz no dia anterior, quando a CPI recebeu Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde.
Na ocasião, Aziz disse que o "lado podre das Forças Armadas" tinha conexão com falcatruas. O senador chamou a nota dos militares de "desmedida e intimidatória", mas declarou que o texto "não vai parar a CPI". " É nosso trabalho, é nossa obrigação garantir justiça aos mais de 540 mil mortos e aos milhares que ficaram com sequelas da Covid-19", acrescentou.