Ao muito do que se pensa, o cerrado é um bioma propício para bichos peçonhentos como cobras, aranhas, marimbondos, lacraias e em específico, escorpiões. Estes seres despertam pavor na população por se esconderem em lugares de difícil acesso como entulhos e buracos nas paredes. Contudo, podem se alojar nas casas como embaixo de cômodos e até dentro das roupas e calçados em busca de abrigo. Por possuírem veneno potente são considerados riscos de saúde em todo o território goiano e em específico, em três bairros de Aparecida de Goiânia.
Por causa disso, uma força-tarefa interdisciplinar foi mobilizada pela prefeitura com mais de 30 servidores municipais a intuito de diminuir a infestação dos escorpiões por eliminar os próprios locais que se proliferam. A operação teve início nesta segunda-feira (15) no Complexo Estrela do Sol, após duas pessoas serem picadas pelo bichos, mas desde então se abrangeu para outros dois setores que tiveram presença dos animais peçonhentos, os bairros Vila Maria e Jardins dos Buritis.
A ação foi dividida em duas partes e protagonizada pelo Centro de Zoonoses de Aparecida com agentes da Vigilância em Saúde além de servidores da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU). De acordo com Edson Fernandes, coordenador do Centro Zoonoses, as equipes estiveram presentes nesta manhã de sexta-feira (19) em lotes do bairro Jardins dos Buritis após relatos de moradores.
“A gente foi de casa em casa distribuindo panfletos e educando a população para diminuir o número dos bichos. Só em 2023 tivemos casos de 55 picadas de escorpiões, dois casos a mais que em 2022, e só nesse primeiro mês do ano tivemos duas pessoas feridas pelos ferrões”, conta o coordenador.
Para Edson, a alta frequência de entulhos, lixões e áreas com baixo saneamento aumentam a probabilidade do aparecimento de escorpiões pela existência de outros insetos e invertebrados que são presas naturais do animal.
Houve também o manejo dos seres capturados para o Laboratório de Cromatografia e Espectrometria de Massas (Lacem) para a análise toxicológica. Segundo o Edson, todos os escorpiões são da espécie de Tityus serrulatus (Escorpião-amarelo), uma das espécies com veneno mais potente registrado no Brasil. Além disso, foi feita também a limpeza e dedetização com inseticidas nas casas.
“Todos os animais que capturamos são escorpiões-amarelos, em uma casa habitada no Complexo Estrela do Sol encontramos dezoito deles. Hoje de manhã encontramos mais outros no Jardins dos Buritis”.
De acordo com João Pedro Cicatelli, escorpiões são encontrados em quase todas as partes do globo, incluindo no cerrado. Como exemplo, entre agosto de 2022 e 2023 foram registrados 652 internações no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr Anuar Auad (HDT), por picadas do aracnídeo.
“Escorpiões são registrados em quase todos os biomas conhecidos, com diversas espécies endêmicas por regiões, mas em Goiás as espécies mais comuns são os escorpiões amarelos e marrons, em especial são mais comuns a sua presença na zona rural”.
Além disso, fala a dificuldade do controle populacional do escorpião amarelo em território goiano devido à sua reprodução rápida, se espalhando para dentro das casas por pequenos buracos. Inclusive, é comum a sua aparição em lugares fechados durante o dia dentro das casas por ser um animal de costume noturno. De acordo com ele, são mais comuns em ambientes urbanos na estiagens por procurarem proteção e alimentos.
“O escorpião amarelo é capaz de se reproduzir sem a necessidade de um parceiro, então a proliferação é rápida e de difícil controle, o que pode acabar aumentando a área geral a qual a aparição deste animal se dá. Diferente das aranhas, quase todos os escorpiões são venenosos com poucas exceções de espécies que não possuem o ferrão”.
Segundo Edson, estes seres podem entrar nas casas através de frestas pequenas desprotegidas em regiões com fonte de alimento do aracnídeo, pequenos buracos como frestas de rodapé, de tijolos sem reboco, janelas e outras fissuras são porta de entrada para os bichos. Além disso, calçados, roupas de cama e toalhas podem servir de abrigo temporário ao escorpião durante o dia.
Uma outra forma de cuidado que as pessoas podem tomar é com a preservação de predadores naturais dos aracnídeos como Lagartos, João Bobo, Corujas, Quati, pequenos macacos como sagui. Uma forma indireta que pode ajudar no controle populacional é com a manutenção dos jardins e terrenos baldios por manter a grama cortada. Edson comenta que a prática das queimadas podem atrapalhar no controle populacional em desocupar os escorpiões e levá-los para dentro das casas em busca de proteção.
Outra dica que dá é com o manejo recorrente de entulhos como materiais de construção e restos de obras para não proporcionar abrigo ao animal durante o dia. O acúmulo de lixo também pode proporcionar a proliferação dos escorpiões pela alta presença de baratas e roedores, presas naturais do aracnídeo.
Apesar de todas as dicas, Edson alerta para a não interação com o escorpião pelo risco de ser picado. Ao invés de matar o animal, Edson fala para fazer a ligação “urgente” para a central de zoonoses do município. “Se alguém ver o bicho, ligue imediatamente para a vigilância ambiental e não tente fazer o manejo do bicho”.