O exército brasileiro anunciou nesta segunda-feira, 29, que a empresa israelense Elbit Systems, e suas subsidiárias brasileiras Ares Aeroespacial e Defesa e AEL Sistema, venceu a licitação internacional da Força Terrestre para adquirir 36 viaturas blindadas de combate, conhecidas como obuseiros de calibre 155 mm autopropulsados sobre rodas (VBCOAP-SR). A escolha deve criar novo atrito entre a Força Terrestre, o Partido dos Trabalhadores (PT) e integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A administração Lula deve levar em consideração o resultado da escolha técnica feita pelo Exército, mas esta deve agora passar por considerações de ordem geopolítica. Israel está em guerra contra os terroristas do Hamas, na Faixa de Gaza, em uma ação cuja intensidade e danos causados à população civil palestina têm sido alvo de críticas ao redor do mundo. Recentemente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou uma resolução ordenando um cessar-fogo no conflito, o que foi ignorado por Israel.
Em 18 de fevereiro, durante entrevista em Adis-abeba, na Etiópia, Lula comparou a ação de Israel em Gaza ao Holocausto, o genocídio judeu perpetrado pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial. A reação do governo de Benjamin Netanyahu foi imediata: além de acusar o brasileiro de antissemitismo, o governo de Netanyahu declarou Lula persona non grata em Israel.
Para além das disputas entre os dois governos, as Forças Armadas e as polícias do Brasil mantêm uma relação antiga com empresas de Israel. A Marinha, por exemplo, depende dos israelenses para a manutenção das turbinas de seus caças A4 Skyhawk, baseados no Rio. Polícias brasileiras compraram armas e até mesmo material de espionagem de empresas de Israel.
O Exército fechou a compra recente de mísseis anticarro Spike LR, da israelense Rafael, cuja entrega está atrasada em razão da guerra. Este é o primeiro senão ao produto da Elbit, o sistema Atmos 2000, vencedor da licitação para o VBCOAP. Trata-se de uma licitação milionária, cujos valores podem chegar perto de R$ 1 bilhão.
Os outros três concorrentes eram a empresa Nexter francesa, com seu sistema Caesar, o SH-15 da chinesa Norinco e viaturas do sistema eslovaco Zuzana, cujo fabricante firmou uma parceria com a brasileira Avibrás, cujos milhões do novo contrato poderiam ajudar a retirar a empresa da recuperação judicial.
Desde 2018, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul possui um acordo com a AEL/Elbit Systems. Em nota, o Sindicato dos Técnico-administrativos da UFRGS declarou repúdio contra a contratação da empresa para fornecer serviços à universidade.
Repudiamos o acordo firmado entre a UFRGS e a AEL/Elbit Systems em abril de 2018. A Elbit Systems participou desde o início da construção dos muros de apartheid em 2003, muros condenados pela corte internacional em 2004, mas que seguem sendo erguidos e segregam palestinos na Cisjordânia, em Jerusalém, e servem ao bloqueio criminoso imposto por “Israel” há 17 anos à Gaza.
Essa empresa produz os drones assassinos e os caças que estão bombardeando Gaza nesse momento e mesmo antes de outubro de 2023. Está diretamente envolvida nos crimes contra a humanidade, no genocidio, nas violações aos direitos humanos dos palestinos e na manutenção do apartheid israelense.
O conhecimento produzido na universidade pública não deve servir, de forma alguma, para produção de tecnologias de morte, colonização e limpeza étnica. Nem tão pouco para cooperação e utilizacão de recursos públicos para fomentar projetos de empresas criminosas. Firmamos o compromisso de construir uma campanha pelo rompimento desse acordo entre a UFRGS e a AEL/Elbit Systems a partir desse momento, seguiremos até que a universidade pública se posicione pelo boicote acadêmico com “Israel” definitivamente.
A contratação faz parte de um programa do Exército Brasileiro chamado de “Forças Blindadas”, que foi reformulado no início de 2024 para se adequar ao novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento). Recursos do programa serão usados para financiar parte da aquisição. o Governo Federal detalhou a iniciativa, que prevê investimentos de R$ 53 bilhões no eixo Defesa, um dos nove contemplados no programa. Por meio do PAC, serão investidos, ao todo, R$ 1,7 trilhão em todos os estados.
Os recursos destinados à Defesa serão utilizados para equipar o país com tecnologias de ponta e aumentar a capacidade de defesa nacional, além de fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID), gerando mais empregos e renda. Atualmente, o setor representa cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e gera 2,9 milhões de empregos, diretos e indiretos. O eixo Defesa do PAC abrange projetos estratégicos para as Forças Armadas, como equipamentos navais, terrestres, aéreos e sistemas integradores.