Existem tensões entre o Governo Federal e as Forças Armadas desde as manifestações do dia 8 de janeiro de 2023. Na ocasião, o ato se transformou em confusão, destruição de patrimônio público e vandalismo. Como resultado das investigações que se iniciaram nesse episódio, apreenderam com o tenente-coronel Mauro Cid a “minuta do golpe”. Esse documento, segundo o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, em depoimento à Polícia Federal (PF), trazia instrumentos jurídicos para contestar o resultado das eleições de 2022.
Entretanto, o desenvolvimento das investigações enfrenta desafios na responsabilização de autoridades. Os executores dos atos estão sendo julgados, enquanto isso, as acusações contra a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal aguardam análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Devido à esse recente histórico conturbado com as Forças Armadas, muitas pessoas questionavam como seria a relação do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com os militares. Diante da tragédia climáticaa que atingiu o sul do país, Lula não poupa elogios ao comandante do Exército, general Tomás Paiva.
O comandante do exército atuou junto ao Executivo e ao Judiciário como termômetro do escândalo envolvendo o ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid. Ele desqualificou as afirmações do tenente-coronel, que justificava suas ações afirmando que a ele “só cabia cumprir ordens”. Como Paiva foi o ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou repetidamente que conhecia os limites que o titular daquele posto não poderia ultrapassar.
Atualmente, o general coordena a operação de guerra montada pelas Forças Armadas para resgatar vítimas das fortes chuvas e inundações no Rio Grande do Sul (RS). Segundo boletim da Defesa Civil do Estado, o desastre já causou 147 mortes. Entretanto, o número de resgates bem sucedidos também cresce. Até o momento, resgataram com segurança 76.470 pessoas e 10.814 animais da tragédia.
No primeiro domingo de maio, 5, Lula foi com uma comitiva de 13 ministros às cidades atingidas para oferecer auxílio aos prefeitos. O general Tomás Paiva estava no voo, e, desde então, tem recebido retornos positivos do presidente, que atribuí ao comandante do Exército características como discrição, eficiência e respeito à democracia. Segundo cálculos do militar, são mais de 20 mil militares que já atuaram diretamente no resgate de pelo menos 60 mil pessoas.
O general Paiva foi chefe de gabinete do general Villas Boas, que tuitou o que foi interpretado como uma pressão das Forças Armadas contra uma decisão favorável ao petista na véspera de um julgamento de habeas corpus, que poderia beneficiar Lula na Lava-Jato. Além disso, Tomás Paiva nunca admitiu o envolvimento da instituição militar na tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023. E não reconheceu o quebra-quebra como um ato golpista, mas conseguiu diminuir a resistência do governo aos militares.
Ainda mais depois que as investigações da Polícia Federal apontaram quais militares poderiam ser responsabilizados – como o general e ex-candidato a vice de Bolsonaro, Walter Braga Netto, e o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, ambos investigados no inquérito que apura o papel de Jair Bolsonaro e de outros atores para uma virada de mesa nas eleições de 2022.
Em meio às tragédias, Tomás Paiva foi alvo de fake news. As notícias falsas diziam que ele estaria confraternizando com integrantes do regime comunista chinês em uma viagem à Ásia.