Em uma virada surpreendente nas eleições iranianas, Masoud Pezeshkian, um candidato reformista defensor de políticas moderadas e melhores relações com o Ocidente, venceu o segundo turno presidencial.
O Ministério do Interior anunciou a vitória de Pezeshkian, de 69 anos, que obteve 16,3 milhões de votos, superando o candidato linha-dura Saeed Jalili, que recebeu 13,5 milhões de votos. Este resultado representa uma derrota significativa para a ala conservadora e abre espaço para os reformistas, marginalizados nos últimos anos.
A taxa de participação aumentou para cerca de 50%, dez pontos percentuais a mais que no primeiro turno, marcando a maior adesão eleitoral desde 1979. A perspectiva de um governo linha-dura, que intensificaria as rígidas regras sociais e evitaria negociações internacionais para aliviar as sanções econômicas, motivou os eleitores a comparecerem em massa no segundo turno.
Em seu discurso de vitória, Pezeshkian agradeceu aos seus apoiadores, afirmando que seus votos “deram esperança a uma sociedade mergulhada em insatisfação”.
“Não fiz falsas promessas nesta eleição”, disse Pezeshkian, acompanhado pelo ex-ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, no mausoléu o aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da República Islâmica, no sul de Teerã. “Eu não disse nada que não possa fazer amanhã.”
A vitória foi comemorada por milhares de iranianos que saíram às ruas, buzinaram e dançaram em várias cidades do país. “O fim do governo da minoria sobre a maioria”, escreveu Ali Akbar Behmanesh, um político reformista e chefe da campanha de Pezeshkian na província de Mazandaran, no X (antigo Twitter). “Parabéns pela vitória da sabedoria sobre a ignorância”.
Apesar do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, deter o maior poder no governo, o presidente tem a capacidade de definir políticas domésticas e influenciar a política externa.
“Um presidente reformista, apesar de todas as limitações e fracassos do passado, ainda é significativamente melhor. De maneira importante, ele colocaria alguma restrição ao autoritarismo da República Islâmica”, disse Nader Hashemi, professor de estudos do Oriente Médio na Universidade George Washington.
As eleições no Irã, embora não sejam livres nem justas segundo padrões ocidentais, são vistas pelo governo como um sinal de legitimidade.
Veterano da guerra contra o Iraque, Pezeshkian serviu no Parlamento por 16 anos, foi vice-presidente do órgão e ministro da Saúde por quatro anos. Sua identidade como azeri e a criação dos filhos sozinho após a morte da esposa cativaram muitos eleitores. A presença de sua filha ao seu lado em comícios e discursos importantes fortaleceu sua imagem pública.
“Eu sou sua voz, mesmo a voz dos 60% cuja voz nunca é ouvida e não compareceu nas urnas”, afirmou. “O Irã é para todos, para todos os iranianos”, disse aos iranianos em sua última mensagem de vídeo de campanha.
A vitória de Pezeshkian foi recebida com mensagens de felicitação de líderes globais, incluindo Vladimir Putin, que expressou esperança em fortalecer a cooperação bilateral, e do rei Salman da Arábia Saudita, que desejou um desenvolvimento contínuo das relações entre os dois países. Líderes da Índia e da China também manifestaram interesse em fortalecer os laços com o novo presidente iraniano.