Dados do Centro de Vigilância Epidemiológica, ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, mostram que, entre 2019 e junho deste ano, 133 pessoas morreram em acidentes envolvendo animais peçonhentos no território paulista.
Desse total, 54 foram causadas exclusivamente por abelhas Apis melífera, única não nativa e com ferrão e veneno, de um total de 60 espécies do inseto catalogados no estado. Elas deixam para trás escorpiões e cobras, que tiraram a vida de 44 e 31 vítimas no período, representando, respectivamente, 33% e 23% do total de mortes.
“Essas são as abelhas que atacam pessoas. Elas são muito mais resistentes a pragas, doenças, produzem mais mel, mas também são mais defensivas com suas colônias”, afirma ao Metrópoles a especialista ambiental Carolina Matos, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura.
Ela acrescentou que as outras espécies que vivem no estado, nativas da região, contam com ferrões atrofiados e, por isso, não conseguem ferir ninguém. Já a espécie africanizada desenvolveu ferrão e a apitoxina, ou seja, o veneno envolvido nas fatalidades.
As mortes decorrentes de ferroadas de abelhas são chamadas de acidentes porque os insetos não atacam gratuitamente as vítimas. Elas reagem quando sentem que a rainha corre algum perigo. Isso pode ser desencadeado, explica Carolina, por fortes odores, como o de perfumes ou colônias, som alto, ou até mesmo roupas de cores escuras, que incomodam essas abelhas.
Caso identifiquem o que consideram uma ameaça, as abelhas literalmente dão a própria vida para proteger a colônia. Para isso, ferroam o alvo, deixando parte do abdômen para fora do corpo. A toxina, então, é injetada na vítima e segue entrando no corpo, por causa da continuidade do movimento do abdômen solto do inseto, que faz uma espécie de bombeamento do veneno.
“Elas não atacam a esmo, precisam se sentir ameaçadas. Depois que a primeira ferroada é dada, a pessoa, ou animal, se torna um alvo porque, além do veneno, a vítima fica marcada e emite um cheiro, um feromônio, que excita as outras abelhas que começam, então, a defesa da colônia”, explicou a especialista.