As queimadas ocorridas em Goiás neste ano causaram danos ambientais e financeiros ao Estado. Segundo o Instituto Mauro Borges (IMB), entre janeiro e agosto de 2024, os gastos relacionados aos incêndios florestais somaram aproximadamente R$ 710 milhões. Até o término do ano, esse montante pode chegar a R$ 1,2 bilhão, conforme as previsões.
Conforme o relatório da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), divulgado na quinta-feira, 19 de dezembro, o fogo devastou quase 449 mil hectares no Estado desde o início do ano. Os municípios de Formosa, Mineiros, Rio Verde e Jataí se destacaram por terem sofrido maiores danos.
Segundo o ambientalista Gerson Neto, a maior parte dos incêndios florestais que acontecem em Goiás é fruto de ação humana. “São atos criminosos e que muitas vezes são cometidos de forma articulada”, diz. […] “É preciso que a polícia investigue esse crime de forma assertiva, para descobrir e prender os incendiários”, continua.
O especialista ainda explica que o Cerrado tem uma resiliência a queimadas, e que possuem dois grandes fatores que tornam elas extremamente perigosas, como a invasão da braquiária, uma gramínea exótica que produz muito mais massa de palha do que as gramíneas nativas, elevando a temperatura do fogo a um nível que pode chegar a matar as árvores e arbustos, e o aquecimento do planeta, que além de temperaturas elevadas provoca o prolongamento dos períodos de seca.
“É extremamente difícil controlar o fogo nessas condições, com a massa de braquiária inflamável muito alta e com a temperatura ambiente passando dos 40 graus celsius durante o dia”.
O documento revela que a unidade de conservação estadual mais afetada por queimadas foi o Parque Estadual da Serra Dourada, que abrange as cidades de Goiás, Mossâmedes e Buriti de Goiás. No Parque, foram 10.852 hectares consumidos por incêndios naturais.
Na categoria de incêndio de causa antrópica, o Parque Estadual dos Pireneus foi o mais atingido, sendo 1.197 hectares. O Parque abrange os municípios de Pirenópolis, Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás. O segundo foi Parque Estadual Terra Ronca com 800 hectares atingidos.
De acordo com o Mapbiomas, os focos de incêndio em Goiás correspondem a 7,8% de todo o Brasil em 2024. Os estados em que houve mais ocorrências foram Mato Grosso, em primeiro lugar (24,4%), e na sequência Tocantins, Maranhão e Minas Gerais.
O relatório revela que 51,7% dos incêndios aconteceram em regiões de produção agropecuária, enquanto apenas 1,42% (o que corresponde a pouco mais de 5,6 mil hectares) ocorreu em áreas licenciadas, o que sublinha a eficácia do processo de licenciamento.
Um pouco mais de 6,5% dessa extensão é constituído por unidades de conservação, destacando-se os parques nacionais da Chapada dos Veadeiros (14,6 mil hectares) e das Emas (11,3 mil hectares). Incêndios em terras quilombolas representam 1,5% do total, enquanto os registrados em terras indígenas somam 0,02%.
Ainda segundo o relatório, o Corpo de Bombeiros Militar realizou 10.686 atendimentos, priorizando áreas urbanas. A plataforma Monitor de Queimadas recebeu 584 notificações no ano de 2024. O investimento da Semad em ações de prevenção alcançou R$ 4,22 milhões, incluindo a contratação de brigadistas e a compra de novos equipamentos.
As brigadas contratadas pela secretaria intervieram em 152 ocorrências até novembro, focando na contenção de incêndios em regiões limítrofes das unidades de conservação.
O levantamento apresenta uma série temporal dos focos de calor em Goiás, iniciando em 1998, e indica que os anos de 2007 e 2010 foram os mais alarmantes do intervalo (com 12,6 mil e 13,4 mil focos, respectivamente).
Observou-se uma queda considerável nas ocorrências entre 2019 e 2023, com os números diminuindo de 7.160 para 3.160 focos (um dos menores quantitativos da série histórica, ao lados dos anos de 2009, 2013 e 2018. No entanto, em 2024, notou-se uma reversão na tendência de queda, com 5.954 focos de calor registrados até 31 de outubro.
Em setembro, mês que normalmente apresenta a maior quantidade de focos, houve um aumento notável nos registros. A média histórica para setembro é de 2.240 focos, mas em 2024 esse total subiu para 3.111, demonstrando um crescimento expressivo.
Segundo Neto, a maioria das queimadas em Goiás ocorre neste mês, por refletir uma sazonalidade que coincide com o período de seca. “É quando essas temperaturas extremas chegam ao seu máximo e a combustão se torna extremamente fácil. É como se o clima impulsionasse o fogo. A situação é tão extrema e perigosa que não é aconselhável para as brigadas de incêndio trabalharem nas horas mais quentes do dia”, finaliza.
É relevante destacar que, ao longo deste ano, nenhum mês alcançou valores superiores ao máximo histórico, indicando que, embora o ano tenha apresentado picos elevados, estes ainda se mantiveram dentro dos limites históricos de variação.