Abril é conhecido como o mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), simbolizado pela campanha Abril Azul. A iniciativa busca ampliar o entendimento da sociedade sobre o autismo, um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a forma como uma pessoa se comunica, se comporta e interage socialmente. Diferentemente de outras síndromes que apresentam características físicas visíveis, o autismo não se revela à primeira vista, o que o torna uma deficiência considerada invisível.
Grande parte das discussões públicas sobre o TEA ainda se concentra na infância, o que muitas vezes invisibiliza os desafios enfrentados por adolescentes, adultos e idosos autistas. Uma dessas questões pouco debatidas é a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 85% das pessoas com autismo estão fora do mercado formal. Isso significa que, dos mais de 2 milhões de brasileiros com TEA estimados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 1,7 milhão não têm emprego.
Frente a essa realidade, em agosto de 2024, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei 5.813/2023. O texto prevê a criação de medidas para facilitar o acesso de pessoas com TEA a vagas de trabalho e estágio compatíveis com seus perfis. A proposta inclui a integração entre cadastros de emprego e bases de dados de pessoas autistas, bem como a promoção da acessibilidade e da inclusão nos ambientes profissionais.
A presença de autistas no mercado não deve ser vista apenas como uma questão de direito, mas também como um fator fundamental para o crescimento pessoal e social desses indivíduos. O emprego representa mais do que renda: é fonte de autonomia, autoestima e pertencimento. Para quem está no espectro, o contato com colegas, a previsibilidade da rotina e a sensação de ser produtivo contribuem significativamente para o desenvolvimento emocional e cognitivo.
Além disso, as empresas têm muito a ganhar ao incluir colaboradores autistas em seus times. Pessoas com TEA costumam apresentar um olhar diferenciado sobre os problemas, habilidades como concentração extrema, precisão, criatividade e atenção aos detalhes. Essas características, quando bem direcionadas, podem enriquecer a cultura organizacional e impulsionar resultados.
No entanto, para que a inclusão seja real e efetiva, é necessário promover mudanças estruturais e comportamentais dentro do ambiente corporativo. Isso envolve desde adaptações físicas no espaço, como a diminuição de ruídos e estímulos visuais, até ações de capacitação da equipe. É essencial que gestores e colaboradores compreendam o que é o TEA, suas diferentes manifestações e como criar um ambiente mais acolhedor.
Estruturar rotinas claras, oferecer cronogramas visuais e adotar uma comunicação mais objetiva são estratégias que ajudam na compreensão das tarefas diárias. Outro ponto essencial é oferecer suporte psicológico contínuo, garantindo que o profissional autista se sinta seguro, ouvido e respeitado em sua individualidade. No processo seletivo, vale também repensar as etapas tradicionais, que muitas vezes exigem performance em entrevistas presenciais com alto nível de informalidade, um desafio para boa parte das pessoas no espectro.
Do lado das empresas, é necessário investir em treinamentos que aprofundem o conhecimento sobre o autismo e seus diferentes perfis. Isso permite que os líderes saibam adaptar tarefas, reconhecer potencialidades e oferecer condições reais de crescimento profissional. Criar espaços que respeitem as necessidades sensoriais e cognitivas é parte do processo de tornar a inclusão uma realidade.
Para os profissionais com TEA, o caminho da inserção também passa pelo fortalecimento da autoestima, pelo acesso à informação e pelo apoio de redes especializadas. Investir em capacitação contínua, buscar orientação jurídica e emocional, além de se conectar com instituições e grupos de apoio, são estratégias importantes para enfrentar os desafios do mercado e ampliar as oportunidades.