A iminência da chegada da milícia tem causado cenas de pânico e grandes engarrafamentos. Muitos cidadãos correram para os bancos para obter dinheiro e descobriram apenas então que o Governo restringira a retirada a 2.000 dólares. Os residentes de Cabul também começaram a estocar mantimentos em lojas que também estão prestes a fechar, por medo de uma insegurança prolongada, como aconteceu no passado, quando a cidade mudou de mãos.
Algumas ruas estão desertas, enquanto outras ficaram congestionadas enquanto as pessoas correm para casa nos carros —o Governo impôs um toque de recolher. “As pessoas têm medo de possíveis saques generalizados por homens armados e criminosos, sequestros, ataques e outros atos imorais, como estupro. Tememos que haja um vácuo de poder “, disse Haji Imamd Dad, um funcionário público de 48 anos. Em algumas áreas, pequenos saques já foram relatados e dois policiais foram desarmados por uma multidão de jovens.
As embaixadas aceleraram a evacuação de seus funcionários e as agências de viagens fecharam, segundo testemunhas. Os voos domésticos e internacionais de e para Cabul foram cancelados. Somente aviões militares dos Estados Unidos e de outras nações da coalizão internacional que apoiavam o Governo conseguiram retirar seus cidadãos e diplomatas, segundo fontes diversas.
Fontes diplomáticas e a mídia local sugerem que Ali Ahmad Jalali, ex-ministro do Interior e acadêmico que se formou nos Estados Unidos, poderia chefiar um Executivo provisório de transição, embora não esteja confirmado se o Talibã concordaria.
Segundo várias fontes, um grupo de líderes guerrilheiros entrou no palácio presidencial para falar com Ghani sobre uma transferência de poder, mas ele já deixara o país. O Talibã exigiu durante sua ofensiva a renúncia de Ghani, que até este domingo a rejeitara. Horas antes de sua partida, seu escritório chegou a tuitar que “as forças de segurança do país, em coordenação com parceiros internacionais, controlam a situação de segurança em Cabul”.
A escala e velocidade do avanço do Talibã pegou afegãos e a aliança liderada pelos EUA de surpresa. Nas últimas duas décadas, o país investiu 83 bilhões de dólares em equipamento e treinamento de um Exército governamental que em muitos casos abandonou seus postos sem resistência ou fugiu antes da chegada dos insurgentes, que ficaram com suas armas.
“Vinte anos após a invasão, os Estados Unidos estão deixando o Afeganistão e deixando uma bagunça. Não sabemos o que acontecerá com este país, mas todos perdemos a esperança de melhorar a situação “, disse Tajuddin, um comerciante de tapetes de Cabul. “O mundo e os afegãos devem responsabilizar os líderes americanos por iniciar esta guerra e, sem encontrar uma maneira de acabar com ela, sair agora deixando o Afeganistão em uma situação pior do que antes da expulsão do Talibã”, disse ele em meio à incerteza que reina em Cabul.
“É hora de os líderes afegãos se reconciliarem e formarem um governo aceitável para todos. Os últimos 42 anos de guerra provaram que ninguém vencerá lutando, por isso é hora de firmarmos um acordo, vivermos juntos e construirmos este país “, disse Rashid Sorosh, professor.
O Talibã está pedindo aos afegãos que não deixem o país por medo. O principal porta-voz, Zabihullah Mujahid, insistiu que os militantes receberam ordem de permanecer nos portões de Cabul e que a capital será entregue pacificamente. Os combatentes estão instruídos a evitar vingança ou atacar propriedades. Os hospitais e o aeroporto continuarão funcionando e os suprimentos de emergência não serão interrompidos, garantiu a milícia, segundo a Reuters. Os estrangeiros em Cabul poderão deixar a cidade, se desejarem.