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O enigma da síndrome de Havana, que ataca espiões americanos e intriga cientistas

BBC investiga o mistério por trás dos casos misteriosos que vem sendo relatados há décadas por servidores americanos no exterior, e que voltaram a ganhar força com a reabertura da embaixada dos EUA em Cuba.

Publicada em 12/09/21 às 09:48h - 43 visualizações

por Gordon Corera


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 (Foto: BBC News)


Médicos, cientistas, agentes de inteligência e autoridades têm quebrado a cabeça para descobrir o que causa a síndrome de Havana, uma misteriosa doença que atingiu diplomatas e espiões americanos na capital cubana. Alguns falam em ato de guerra, outros aventam a possibilidade de ser uma nova e secreta forma de vigilância e há quem diga que tudo isso é coisa da cabeça das pessoas atingidas. Então, quem ou o que foi responsável por isso?

Tudo começa com um som, um que as pessoas têm bastante dificuldade de descrever. "Zumbido", "ruído metálico", "gritos penetrantes" são algumas dessas tentativas.

Uma mulher relata um zumbido baixo e uma pressão intensa em seu crânio; outro sentiu uma pulsação de dor. Há quem não tenha ouvido nenhum som ou sentido calor e pressão. Mas para aqueles que ouviram o som, tapar os ouvidos não fez diferença. Algumas das pessoas que enfrentaram essa síndrome ficaram com tonturas e fadiga durante meses.

A síndrome de Havana surgiu pela primeira vez em Cuba, em 2016. Os primeiros casos foram entre agentes da CIA (agência de inteligência americana), o que significa que foram mantidos em segredo. Mas, eventualmente, a notícia se espalhou e, com ela, a ansiedade. Vinte e seis funcionários e familiares relataram uma ampla variedade de sintomas. Houve rumores de que alguns colegas pensavam que os doentes eram loucos e que "tudo estava na cabeça deles".

Cinco anos depois, os relatos agora chegam às centenas e, segundo a BBC, abrangem todos os continentes, deixando um impacto real na capacidade dos Estados Unidos de operar no exterior.

Descobrir a verdade agora se tornou uma das principais prioridades da segurança nacional dos EUA — que uma autoridade descreveu como o desafio de inteligência mais difícil que eles já enfrentaram.

Evidências concretas não são conclusivas, tornando a síndrome um campo de batalha para teorias concorrentes. Alguns veem isso como uma doença psicológica; outros, como uma arma secreta. Mas um conjunto crescente de evidências tem se concentrado nas micro-ondas como o culpado mais provável.

Em 2015, as relações diplomáticas entre os EUA e Cuba foram restauradas após décadas de hostilidade. Mas, em dois anos, a síndrome de Havana quase fechou a embaixada no país caribenho, já que funcionários foram retirados dali por causa de preocupações de saúde.

Inicialmente, especulou-se que o governo cubano — ou uma facção linha-dura que se opõe a melhorar as relações entre Cuba e EUA — poderia ser o responsável, implantando alguma espécie de arma sônica. À época, os serviços de segurança de Cuba estavam nervosos com o fluxo de americanos e mantinham um controle rígido sobre a capital cubana.

Mas essa teoria perdeu força à medida que casos passaram a se espalhar pelo mundo.

Recentemente, outra possibilidade entrou em cena — uma hipótese cujas raízes estão nos recessos mais sombrios da Guerra Fria e um lugar onde a ciência, a medicina, a espionagem e a geopolítica se chocam.

Quando James Lin, professor da Universidade de Illinois (EUA), leu os primeiros relatos sobre sons misteriosos em Havana, imediatamente suspeitou que as micro-ondas fossem as responsáveis pelo problema. Sua crença se baseava não apenas na pesquisa teórica, mas na sua própria experiência. Décadas antes, ele próprio ouvira os sons.

Desde a Segunda Guerra Mundial, há relatos de pessoas sendo capazes de ouvir algo quando um radar próximo foi ligado e começou a enviar micro-ondas para o espaço. Mesmo sem ruídos externos. Em 1961, um artigo assinado por Allen Frey argumentou que os sons eram causados por micro-ondas interagindo com o sistema nervoso, levando ao termo "Efeito Frey". Mas as causas exatas — e implicações — permaneceram inconclusas.

Na década de 1970, Lin deu início a experimentos em torno do fenômeno na Universidade de Washington. Ele se sentou em uma cadeira de madeira em uma pequena sala forrada por materiais absorventes, com uma antena apontada para a parte de trás de sua cabeça. Em sua mão segurava um interruptor de luz. Do lado de fora, um colega enviava pulsos de micro-ondas pela antena em intervalos aleatórios. Se Lin ouvisse um som, ele deveria apertar o botão.

Um pulso parecia o som de um zíper ou de um estalar de dedo. Uma série de pulsações lembrava pássaros. Todos foram produzidos em sua cabeça, e não como ondas sonoras vindas de fora. Lin acreditava que a energia era absorvida pelo tecido mole do cérebro e convertida em uma onda de pressão que se movia dentro da cabeça e era interpretada pelo cérebro como som. Isso ocorria quando as micro-ondas de alta potência eram emitidas como pulsos, diferentemente da forma contínua de baixa potência obtida de um forno de micro-ondas moderno, por exemplo.




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