O plano de bolsonaristas radicais para prender Alexandre de Moraes voltou à tona após a PF fechar o cerco a Mauro Cid. E pode complicar Bolsonaro e, sobretudo, pessoas próximas ao ex-presidente.
A estratégia de intervir no Tribunal Superior Eleitoral, com a subsequente prisão de Moraes, presidente da Corte, foi revelada pela coluna em janeiro. Nesta quinta (4/5), a CNN noticiou que a Polícia Federal detectou áudios nos quais Cid participa de discussão sobre golpe de Estado. No entorno do ex-presidente, há quem tema o que o coronel, preso quarta (3/5), possa falar caso se sinta pressionado e abandonado.
Como mostrou a coluna, a sugestão para prender Moraes partiu de representantes da ala radical bolsonarista. O assunto foi tratado no Palácio da Alvorada, a residência oficial, em meados de dezembro.
Além de militares, estavam presentes na reunião políticos da confiança de Bolsonaro filiados a dois partidos políticos: PTB e PL. A justificativa para a prisão de Moraes seria a suposta interferência do magistrado no processo eleitoral.
Bolsonaro ouviu tanto a ala radical quanto a moderada. E optou por não avançar. Primeiro porque o presidente do seu próprio partido, o PL, colocou-se contrário à medida.
Presidente do PL, Valdemar Costa Neto disse que, se Bolsonaro quisesse intervir no TSE, não contaria com o apoio da legenda. A resistência do dirigente em confrontar o Tribunal Superior Eleitoral foi noticiada pela coluna em dezembro.
A falta de adesão espontânea das Forças Armadas a uma tentativa de golpe emperrou de vez os ânimos de bolsonaristas radicais. A ala ideológica imaginava que, com a proximidade da posse de Lula, o Alto Comando do Exército agiria com vigor. O descontentamento da caserna com a vitória do petista, contudo, não se transformou em nenhuma ação articulada.
O anseio por um golpe enfrentou resistência até mesmo dentro da família Bolsonaro. Em 7 de dezembro, uma semana antes dessas discussões no Alvorada, Flávio Bolsonaro afirmou em entrevista à coluna que a transição para o governo Lula seria pacífica. Na ocasião, ao tentar desmobilizar manifestantes, o senador foi atacado por parte do segmento radical.
Uma questão que poderá surgir é: participar da discussão de um golpe, sem de fato pô-lo em prática, configura crime? Pessoas próximas a Bolsonaro acreditam não haver irregularidade nisso.